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A Inocência das 'Sabedorias' (...Crentes)
A Inocência das 'Sabedorias' (...Crentes)

Após observações cuidadas e uma extensa análise, fiquei tentado a concluir que o mexicano (já falecido) Enrique Mercado Orué se destaca como um dos raros «contactados» ufológicos cuja narrativa se me oferece não apenas verosímil, mas sobretudo sincera. E portanto, autêntica. (Os demais contactados revelam-se, em sua maioria esmagadora, uns farsantes charlatães, que, cheios de lata, sem pudores, inventaram o que não viveram, ainda que tenham tido «avistamentos» e «experiências outras», com base nos quais, aliás, criaram uma mera fábula, quase sempre com objetivos lucrativos.)

Dentre a múltipla informação que lhe foi prestada e a nós por ele reverberada, avulta a de que «habitamos um universo finito que não é único» e que «a única coisa que seja finita é o espaço».

E aqui me detenho numa derivação analítica que se torna pertinente porquanto tais informações relevam de um continuado equívoco histórico, de gé(/ê)nese sensorial, com sequente elaboração conceitual e impacto cultural posterior: o de que exista um espaço prévio a tudo e completamente vazio e oco em sua elementar essência, assim servindo como recetáculo a todas as coisas e à generalizada dança que toma lugar a partir da intrincada teia relacional entre essas mesmas coisas urdida no seio do palco dito natural.

Cada um pode ver o que vir, mas se não obtiver um acercamento máximo relativamente ao que veja, não poderá assertivamente concluir do seu grau de realidade em bom exercício de honestidade intelectual, antes se devendo perguntar se tudo aquilo que veja não será mais que uma simples ilusão, ou uma imagem sequenciada de uma mera realidade holográfica, realidade todavia sem qualquer projeção, sem relevo, sem profundidade geométrica.

Então, para se assegurar de que o que veja seja real, aproxima-se e toca. Se a realidade que vê for real, esta oferecer-lhe-á resistência às intenções de manipulação ou de simples palpação, assim lhe concedendo um grau de certeza que, de «certo», apenas tem o momentâneo veredito da consciência iludida, a qual, precipitada(mente), conclui pela certeza a realidade da coisa vista. Daí derivando para a conclusão outra de que o que separe as coisas entre si seja o espaço e que, para que por exemplo tu e eu nos relacionemos, será necessária a prévia existência de espaço. Sem o que, as coisas se tornariam indefinidas, amalgamadas, prensadas pela inexatidão das posições relativas.

É que a certeza que tenhamos acerca dos fenó(/ô)menos e dos fa(c)tos só é «certa», justamente no momento em que a proferimos. O que prontamente recai no domínio da ilusão. Pois para ser verdadeiramente «certa», ou seja: para ser absolutamente certa, ela teria de continuar tempo fora. E mais: teria de continuar, mas (sempre) igual! Portanto: permanente – e imutável.

Ora: o que é que seja permanente, no domínio natural? Nem sequer um extraterrestre, quanto mais o seu ovni. E se não é «permanente», «imutável» ainda menos!

Só que, dentre outros fa(c)tos mais, a consciência esquece que precisa de tempo para que a mão do seu corpo toque o objeto visto. E que a própria visão do objeto depende do tempo para se manifestar ao sujeito do ato de ver, que tal consciência é. Pois a visão não é um produto instantâneo!

Pelo que, falar de espaço como recetáculo universal (ou cósmico) prévio e previamente vazio, necessariamente infinito porque somente o vazio é infinito, já que o não vazio tem conteúdo e todo o conteúdo cai fora do infinito, uma vez que o infinito é um conceito geométrico, enquanto o conteúdo é um conceito quântico, não enquanto tomado num sentido fisicista e sim no sentido contabilístico do termo, ou seja: mede-se pela sua quantidade num domínio relacional qualquer, não pelo seu comprimento (pois uma coisa é o infinito e outra é o inumerável e outra mais o inquantificável), torna-se então, essa alusão a tal tipo de elementaridade espacial, um exercício de obnubilação conceitual e não uma lúcida estruturação de um discurso do qual se pudesse dizer ser «científico». Ou seja: ser «certo», precisamente. Isto é: ser apodítico. Inquestionável. Supremamente.

Em outro regist(r)o, não propriamente afim, mas igualmente posicionado na área do fantástico, Paulo César Fructuoso, médico cirurgião brasileiro que é espírita militante, vem falar-nos de planos paralelos (espirituais) como podendo aludir-se-lhes aos universos paralelos da especulação fisicista, dos quais seriam semanticamente sinó(/ô)nimos. Procurando, no concretismo da sua visão empirista, que o formou como médico cirurgião, descortinar a tangibilidade do espírito através de um fluido qualquer, certamente mais nobre do que os simples plasmas, mais rarefeito, mais etéreo. E o (já clássico) ectoplasma (dos tais campos morfogenéticos) serve na perfeição.

Definiram, os contactos de Enrique Mercado, como sendo uma «energia sem massa» o pensamento. Ou seja: a consciência, seu termo sinó(/ô)nimo. Por certo, definição ao gosto de Paulo Fructuoso.

Temos de entender que, porém, o que nos dificulte o esclarecimento e a perspetiva clara acerca das realidades é, exatamente, o nosso (empírico) entendimento acerca dos fenó(/ô)menos e fa(c)tos. Porque se trata de um entendimento sensorial, crente, acrítico, benevolente, simplista, indolente. Um entendimento científica e culturalmente cândido. Pueril. Cordato. Conforme (e sobretudo, conformista). Pois nós, como atores de uma complexa farsa gigante, que o cosmos representa, acreditamos piamente na imagem que o espelho nos devolve. Quando, afinal, essa imagem é produto de um momento que já não será o mesmo exatamente no lapso imediatamente seguinte!

Assim é que as humanas certezas, já desde a sua gé(/ê)nese, se constituem evidências débeis, inconsistentes, precárias, completamente dependentes da boa vontade de uma perspetiva que fosse supranatural, não contingente, e que, sabendo verdadeiramente acerca da verdadeira realidade, condescendesse e guardasse silêncio perante a (inocente) ilusão em que vive imersa a (convencida) humanidade deste mundo terrestre. Somente ainda no degrau 3 da escala evolutiva civilizacional, segundo os contactos de Enrique Mercado... (enquanto eles já iam no 9º... – dentre 40 níveis distintos...).

Não, Paulo Fructuoso, os universos paralelos não têm necessariamente de ser «paralelos». E os corpos desses universos necessariamente não terão de ser corpos, mais ou menos rarefeitos, mais ou menos fluídicos.

O padrão de Tudo é a Existência. E a «Existência», na sua elementaridade, é apenas simples e mera Possibilidade. Podem dizer que isso represente «um sonho de Deus», se porventura Deus «sonhasse», ou se existisse assim tão antropomorficamente. Pois para algo ser «real», terá de ter cabimento no incontável recheio díspar do intrincado rol do reino da Possibilidade. E uma vez aí, estaremos já a um outro nível de significação, a um outro nível de representação, outro nível de realidade. A semântica da Existência não se confina às cordas vocais de um tipo qualquer, nem nasce e morre apenas sob o teto de um protetorado universal aleatório, nele, ou num seu paralelo que fosse.

A Possibilidade, na sua assunção conceitual, representa muito mais do que a simples intuição pura que o filósofo pudesse ter dela.

E assim como a Existência não se resume à simplicidade de uma apalpadela de mão ou ao roço (roçar) de uma folha no ramo da árvore, também as vidas de cada entidade biológica não cumprem, solene e rigorosamente, as (kármicas) sentenças afinal ditadas pelas mentalidades (epocais) de quem as produz e ornamenta, antes obedecendo a mistérios que se tornam insondáveis de um ponto de vista relativo, relacional, implicado, passageiro – quando não fortuito, mesmo. Pelo que as certezas empíricas de alguém somente soam a verdades à conta da benevolência de quem, filosofando, só sabe que nada sabe verdadeiramente e que, para sabê-lo assim, terá de se elevar acima da contingência que perfaz o mundo dito natural, o qual, além do mais, outra coisa não é senão o acabado produto de seres pouco menos falíveis do que todos os demais, ainda que prevalecendo a um nível quadragésimo da escala evolutiva.

06-09-2020.