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Reflexões Acerca das NDE
Reflexões Acerca das NDE

Reflexões Acerca das Experiências de Consciência em Quadro Clínico de Morte Aparente

 

- As passagens/citações que iremos analisar imediatamente inseriram-se no artigo central do derradeiro número (50) da revista «a Razão», trimestre janeiro-março de 1997 (prova provada de que, no país pequeno, só vingam mesmo as «Novas Gentes» e as «Marias»...), dizendo respeito às intervenções do neuropsicólogo Carlos Fernandes.

«(...)...A frase "Uma Vida Depois Da Vida" pode ser... isto:

As pessoas, quando morrem, morrem mesmo; simplesmente, toda a sua história pessoal ficou gravada nessa memória universal, que é o tal campo subquântico a que outras pessoas podem ter acesso. (...)».

Observações:

Ponto 1º:

O próprio modo de se iniciar a abordagem ao tema em questão, através da frase-estandarte da hipótese, está mal pensado e pior formulado.

Não há uma «vida depois da vida», porque vida existe apenas esta!

O que pode ocorrer e decerto acontecerá, é que a Realidade tem níveis diversos de EXISTÊNCIA. A «vida» será apenas um deles. A menos que insistamos em usar um mesmo vocábulo para distintas significações, o que facilmente faz recair a linguagem no equívoco... .

A «vida» é a expressão biológica da Existência. Uma forma complexa, mas percetível na própria primeira pessoa e sobretudo mensurável (i.e.: quantificável). Por isso é de estudo aparentemente fácil.

Já aquilo que comanda a vida, que é a consciência, fenómeno supostamente mais simples, todavia não se percebe da mesma maneira que se percebe o corpo, além de se tornar facto de impossível determinação.

Pois onde está a consciência?

USAMO-la, mas não a SENTIMOS! A consciência nunca dói – ao contrário do corpo!

Os «problemas de consciência» são outra estória... . Com outros contornos e de um outro nível... .

Uma ideia concorre para a existência da consciência.

Pois outro problema adicional é a gente da ciência, a dita «exata» ou a denominada «humana», pôr-se a querer definir a consciência.

As definições são dadas pela filosofia, na sua ferramenta lógica!

Nem a psicologia deve definir o que seja a «consciência»! Talvez daí a tendência para o behaviorismo registada na psicologia do início do século vinte... .

É que a psicologia está dependente da vigente ciência, pretensamente positiva, a fim de que, por essa ciência, continue a ser vista como uma "ciência da consciência", precisamente – e não como um mero mosaico de teorias mais ou menos improváveis. Por isso ela se queda a uma enorme distância da perspetiva neutra que a filosofia alcança, a fim de esta poder encontrar-se em melhores condições para estabelecer (as) definições.

No que escrevi até hoje defino a consciência basta(nte)mente.

Apenas escreverei aqui que uma ideia entra na composição daquilo a que se chama «consciência» e todavia não se (pres)sente: não se ouve nem vê; não se toca ou cheira; não tem medida, em volume ou peso, como este teclado tem; et cetera, etc.

Contudo, uma ideia existe – e até mais essencial do que a consciência de que ela faz parte. Pois sem a ideia, não há consciência do que quer que seja.

É que a consciência não é simplesmente condição. A consciência é já um saber – objetivo e muito particular! É isso o que significa «consciência»!

E claro que há uma holoconsciência. Mas já se trata de outra coisa, pois se encontra subtraída a condicionantes naturais de existência: a manifestação e a relação, assim como seus consequentes: o espaço e o tempo.

A condição é uma outra coisa (condição de consciência é um conjunto de elementos: além dos conceitos e das ideias, ainda teremos de contar as imagens a que esses conceitos e ideias correspondem; teremos, também, já a um nível superior de consciência, os sentimentos como seus elementos, tratando-se aí da consciência moral; mas a condição elementar, fundamental, de conhecimento, é uma força, enquanto capacidade, não conhecida e indefinível, que permite que uma imagem seja apreendida e decifrada, que uma ideia tenha lugar e que um conceito subsuma uma série de objetos na sua reunião!).

Ora: um elemento da consciência, como uma ideia de facto o é, além de não se sentir, nunca podendo vir a doer a alguém (da consciência ainda se poderá dizer que ela «doa» no sentido MORAL do termo, embora como simples metáfora...), também não se consegue, mesmo que por vias indiretas, medir, pesando-a ou avaliando-lhe o volume, ou simplesmente lhe determinando a existência objetiva através de metodologias de deteção indiretas e meramente de índole tecnológica.

Porém a ideia existe. E acaba, até, por ter mais realidade do que a consciência que ela ajuda a compor, ou do que o suporte dessa mesma consciência, que o corpo é. Pois o corpo pode (?) existir sem ideias nem uma consciência. Porém não sabe que é corpo e precisa de uma segunda entidade para ser determinado como corpo. E ora: não saber que se seja equivale a não ser! É um princípio elementar da ontologia - e portanto, da lógica também.

Ponto 2º:

O tal «campo subquântico», ideia geral que já servira para John Gribbin argumentar em «Timewarps» (...), é entendido como um espaço coletivo holograficamente constituído.

A «holografia» trata-se, por significação etimológica, da plena (hólos) descrição (grafia) de um todo (novamente hólos).

Um holograma é a expressão cabal da rede constitutiva de uma realidade.

Então o «campo holográfico subquântico» nada de novo traz ao velho conceito psicologista do «inconsciente coletivo», ainda que considerados a níveis aparentemente distintos, que apenas é inconsciente para aquele que esteja a exercer a sua consciência ou a operar com ela, mas que logo se torna um Absoluto de Consciência (algo próximo ao Nirvana), assim que se se adentrasse essa realidade.

Nos meus escritos faço por levar-se a perceber que existe um domínio estruturante puramente energético, inquantificável, além do qual se situa um outro que já não se pode dizer sequer energético, pois o puramente energético ainda faz ponte para a realidade dita material e o plano ultraenergético não dispõe de quaisquer pontos de contato, uma vez que tem aí de se passar pela realidade energética, como forma ou como veículo de ligação.

Ponto 3º:

Retorna C. Fernandes:

«(...)...O corpo é que está mergulhado, como MATÉRIA que é, nesse campo universal, que é físico e que participa de uma partilha de experiências... (...)».

O problema desta assunção de Carlos Fernandes é mesmo o conceito de matéria, tomado como matriz de realidade e não como AQUILO QUE DE FACTO A MATÉRIA SEJA: uma simples forma de expressão... da energia.

Se se quiser: uma forma de expressão do tal «fundo holográfico subquântico». Ao qual lhe chamo outra coisa e o entendo de uma maneira ligeiramente diversa. Pois para os cientistas esse fundo é visto como uma reunião, na qual se perde o conceito de individualidade e até o de unidade, uma vez que uma «reunião» sempre será uma panóplia e não um princípio unitário e único.

Contudo, a esse nível as realidades já não funcionam de forma idêntica ao deste, em que nos habituamos a individualizar supostas unidades que, verificadas as mesmas, se constata afinal não serem tão unas e individuais, pois se tratam de unidades compostas e aparentemente partilham elementos dessas composições (se então pensarmos num casal que tenha relações sexuais muito assíduas, a partilha exponencia-se aí...).

A «matéria» não é mais do que uma forma de expressão energética. Pois o que exista, como padrão e fonte existencial (consequentemente vital, também), é a energia e não a matéria (esta, no sentido de coisa tendente à inércia...).

A miséria do paradigma científico vigente espelha-se na sua submissão à EXPLICAÇÃO.

Julga que, explicando, COMPREENDE.

Porém toma nuvens por Juno e frequentemente confunde causas e efeitos.

«(...) ...Num indivíduo que esteja a ser operado [intervencionado cirurgicamente], não é necessário que algo [a consciência...] saia; o que pode é haver conhecimento exato, através desse campo, do que é que se esteja a passar noutros locais (...)». Ainda Fernandes.

Esta afirmação tão-pouco explica o sentimento. Pois o êxtase experimentado por quem passe por tais experiências trata-se de um sentimento (muito) complexo, não de uma sensação global (não de um cadinho de sensações mais ou menos intrincado). Não explica o mundo afetivo.

«(...) Não é necessário... que algo saia... . Quer dizer: mantendo o corpo, [o indivíduo] pode experimentar-se; ele pode ver-se de fora (...)». Diz Carlos Fernandes.

Mas com que OLHOS se veja, se a ciência positiva do objetivismo mecanicista nos faz admitir que os olhos sejam os instrumentos EXCLUSIVOS para a obtenção da visão, sem os quais o sujeito jamais está apto a ver o que quer que seja?! Porque os olhos estão feitos para permitir a visão e não para a aclarar. Sem eles, é-se cego!

Mais diz:
«(...) Tento manejar a navalha de Ockam: se posso EXPLICAR um fenómeno através de três variáveis, não vou explicá-lo com quatro. Isto é o princípio de toda a metodologia científica. Tenho de a saber manejar muito bem, senão corro o risco de ESPECULAR (...)».

Pergunta-se:

– Por ventura a ciência tem o discurso (acerca) da Verdade? Uma vez que se preocupa tanto em não especular... !

Ora: o «campo subquântico» não passa de especulação. É metafísica da Física - e em pleno exercício. Até mesmo a teoria quântica se trata de uma especulação (...). E se formos ao axiomas da matemática, então... (leia-se a metáfora da moita e do Camelo, de Freidrich Nietzsche, para compreender um pouco melhor a posição deficitária e volátil da ciência positiva...).

A própria assunção de que o corpo (material) é que seja real não é mais do que uma especulação! Pois até quando consigo afirmar a existência do corpo como corpo?

Teria de ser eterna e imutável essa afirmação, para que se subtraísse à classificação de «ilusão» e não recaísse no domínio da especulação, não se tornando a verdade relativa, precária e apenas momentânea que de facto é!

Ecoa Fernandes:

«(...) A consciência é isto. Ninguém sabe bem a natureza dela. ACREDITO que tenha uma natureza FÍSICA, porque o universo, na sua base, é Física (...)».

Ora: se «ninguém sabe a natureza da consciência», então não se pode dizer que ela seja «isto ou aquilo»!

«Acreditar» jamais representa atitude MINIMAMENTE científica! Esta busca a Verdade e foi definida, magistralmente, por Baruch Spinoza. Nada tendo a ver, necessariamente, com o objetivismo pretensamente positivo da explicação mecanicista da ciência vigente.

E o Universo não é, na sua base, Física. Poderia ser físico. Mas escrever «Física» pressupõe a disciplina humana das ciências – e pressupõe uma crença inabalável não só na disciplina académica da Física, enquanto disciplina, ela mesma, mas sobretudo nas capacidades do construtor dessa disciplina: o elemento humano. Que, já se viu, não é divino para possuir a Verdade!

E aqui se radica, por fim, o «orgulho» a que reiteradamente se referiu Allan Kardec, quando, nos seus escritos polémicos, chamou a atenção para o facto de o óbice principal para a evolução humana passar pelo «orgulho» e pelo «egoísmo».

Quanto ao orgulho [...«humanista», acrescentaria (o humanista!) Jean Sendy], está à vista (...).

E quanto ao egoísmo, em Gatwick disponibilizei 50 libras a uma cubana negra com 2 filhos, desesperada para apanhar ligação rodoviária a Heathrow, onde teria a continuação do voo para a sua Suíça de emigração.

Fiquei com apenas 15 libras no bolso e impossibilitado de viajar ou sequer de levantar dinheiro pelo incompetente Banco português onde o tinha e tenho ainda, mesmo dispondo de alguns milhares de euros nessa conta bancária.

Sabia dos riscos e passei fome (...) por um dia, pois tive de pagar a deslocação de volta ao hotel, onde finalmente já pude liquidar a estad(i)a por uma noite com cartão de crédito. E comer algo com os trocos da sobra... .

Mais ninguém, ali, se dispusera a ajudar a mulher, ainda que perante os dois filhos pequenos.

No fim todos me agradeceram – pois aliviei-os de um problema moral. E disse-lhes, mesmo não sendo cristão: «it was a christian attitude»!

Kardec, ingénuo em alguns aspetos, pouco credível noutros pormenores, bastante lógico noutros mais, teve absoluta razão neste ponto!

 

[Não houve aqui qualquer beliscadela intencional ou não a Carlos Fernandes ou às suas qualidades «técnicas», que desconhecemos SUBSTANCIALMENTE, mas apenas mais um dos nossos ataques ao paradigma geral vigente, que não se restringe apenas ao domínio científico, mas que passa por aí e se repercute ou espelha cabalmente no cultural. Ora: se se postular que a realidade seja tal, toda a ciência que se construir a partir daí será sempre assertiva, de contornos aparentemente categóricos (como justamente observa a metáfora da moita e do Camelo...). ]

 

EV,

10–08–2013.