Sempre preferi a noite ao dia. Sobretudo em lua-cheia, que é mágica.
Pois a noite obriga a ver.
O dia oferece tudo para ser visto.
À noite é a recolha à casa habitual, ao quarto de dormir, à cama do repouso.
Advêm então a calma e o silêncio.
Fica criada a atmosfera para a contemplação meditativa.
O dia traz a azáfama dos pássaros, dos humanos e de todos os que têm de labutar para viver.
Tocam sirenes.
Sai fumo dos carros.
Há cio nos olhares (Nietzsche escreveu que «é nas cidades que se encontra mais gente com o cio»...).
Cio de reprodução.
Cio de carências afetivas.
Cio de cobiças. De invejas. De ciúmes.
À noite aprochega-se a Verdade. Indelével. Escondida.
O dia só traz a ilusão: a fugaz mentira de múltiplas cenas mais ou menos entroncadas, ensaiadas sobre um mesmo palco descontínuo.
12-8-2013.