«Era 1968 e caminhávamos lado a lado, saídos do carro que nos levou até o passeio contrário ao do campo do Sporting do Huambo, onde íamos banalmente assistir a um jogo de futebol, cadeira de rodas empurrada pelo patrício Isaías (Luís era congenitamente paraplégico, tal como a irmã).
E de repente, olhando-o do lado direito da cadeira, senti o que nunca antes sentira na vida, nem mais voltei a sentir: uma indescritível maré de imensidão e paz, vinda dele ou envolvendo-nos aos três, mas fisicamente sentida, perfeitamente percetível, ainda que inequivocamente, ainda que profundamente, espiritual.
A eternidade e a imensidão passaram ali – na fugaz vivência de um instante.
[Luís e Isaías faleceram em 1969, vítimas de inalação de gás doméstico, facto conhecido num dia em que descodifiquei uma estranha angústia de mais de um mês de duração, ali em Caconda, onde desde há um ano passara a viver, a mais de 200 quilómetros de distância]»
EV,
26 de setembro de 2009
[In: «A Alma da Existência» («Atrevimentos Poéticos»)]
Luís A. Duarte, como assinava, formou-se superiormente em filosofia numa prestigiada universidade dos Estados Unidos da América e lecionava numa missão evangélica norte-americana da Bela Vista, Huambo.