O 'mundo', ou seja: este planeta, é inequivocamente mafioso. A história humana sobre a Terra (sempre) foi um longo desfile da má-fé, como costumo dizer. E a má-fé emana, ela provém, do egoísmo extremo, egoísmo radical, que é o egoísmo insano (pois existe o egoísmo são, como lhe chamou Nietzsche, que simplesmente faz cada um manter-se na coerência da sua rota e na gravitação do eixo das suas virtudes, quando as haja).
É certo que aquilo a que chamam «Natureza» é um palco onde decorrem, justamente pela sua natureza, isto é: pela sua caraterística essencial (portanto: em razão da natureza da Natureza), generalizadas cenas de «luta pela sobrevivência» e «competição» inerente que são constantes. E é aliás por isso que esta Natureza, a que também chamam «Mundo», ou «Universo», é tudo, menos uma criação «divina», de tão imperfeita ser! Só o dualismo ingénuo pode crer que a Existência se divida em dois: aquela que se vê e a qual se trata do «Mundo» (...físico) e uma outra, invisível, mas percetível de diversas formas, nomeadamente através da consciência que percebemos (de)ter, à qual denominam «espírito», assim se resumindo pobremente a Existência ao «físico» e ao «espiritual», quando efetivamente essa mesma Existência é tudo, menos dual e muito menos simples.
É então o egoísmo extremado que acaba conduzindo o indivíduo à má-fé e ao seu exercício. Porque a má-fé precisamente se gera na razão direta da desconfiança que o egoísmo doentio (radical) nutre relativamente ao «alheio», movido que se encontra pela sua carência de consciência, que o faz reincidir na atitude egoísta, tornando-o «acumulador» e «exclusivista», por exemplo, assim o conduzindo à radicalidade da patologia mental. Pois o «egoísmo» constitui uma patologia do foro mental, com génese cultural, dado que a sua manifestação acontece e sobretudo se consolida no amplo domínio da Relação que cunha o mundo natural. E nesse domínio relacional é que toma lugar o plano social, no qual o indivíduo aparece e se faz, se produz. Pelo que a cura do egoísmo justamente passa pela consciência. Pois o que fez os «santos» da história foi o seu grau de consciência, que os leva a abdicar do seu egoísmo em prol do altruísmo [o qual é o contraponto do egoísmo (ego- significa «eu», enquanto «altero-» representa o «outro» que não eu...)].
Moralmente, a Terra humana é um asco. Já espiritualmente e enquanto inerência, ela apresenta-se como um deserto: um deserto de almas; o mais das vezes, frívolas, prescindíveis, descartáveis, essas almas.
E então, para quem (de)tenha algum grau mensurável de consciência, para quem esteja no limiar mínimo do exercício de consciência, torna-se uma tortura (mental) a travessia desse deserto, entendida como um degredo que dificilmente se suporta.
A 'Natureza' é bela? Sim; ela é «bela» para os patetas da crença e para os destituídos de verdadeiro senso estético e sobretudo destituídos do sentido moral!
Que asco que a Terra é! Prefiro Saturno, ou Urano, com as suas camadas gasosas mais puras, mais imaculadas, mais sãs. A 'atmosfera', na Terra, está poluída por séculos de 'humanização' do ambiente e por milénios de competição biológica; foram eras e eras de fabricação de energias negativas. Tantas, que só mesmo (um)a couraça espiritual pode proteger de uma maior «contaminação»...
29-08-2020.