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Por Quê o Silêncio Sobre a Islândia?
Por Quê o Silêncio Sobre a Islândia?

10.Abr.12

- Os acontecimentos que sucederam o desencadear da crise na Islândia - demissão em bloco do governo; nacionalização da banca; referendo, de modo a que o povo se pronunciasse sobre as decisões económicas fundamentais; prisão dos responsáveis pela crise e reelaboração da Constituição pelos cidadãos – têm sido sistematicamente silenciados. Compreende-se por quê. Mas há a necessidade de divulgar esse exemplo.

Se haja quem acredite que nos dias de hoje não exista censura, então que nos esclareça por que é que ficámos a saber tanta coisa acerca do que se passa no Egito e por que é que os jornais nada têm dito em absoluto sobre o que se passa na Islândia.

Na Islândia o povo obrigou à demissão em bloco do governo e os principais Bancos foram nacionalizados e foi decidido não se pagar as dívidas que eles tinham contraído junto dos Bancos do Reino Unido e da Holanda, dívidas que tinham sido geradas pelas suas más políticas financeiras. Foi constituída uma assembleia popular para reescrever a Constituição. Tudo isto, pacificamente.

Uma autêntica revolução contra o Poder que conduziu a esta crise. E aí está a razão pela qual nada tem sido noticiado no decurso dos últimos dois anos. O que é que poderia acontecer, se os cidadãos europeus viessem a seguir-lhe o exemplo?

Sinteticamente, eis a sucessão histórica dos factos:

2008: o principal Banco do país é nacionalizado. A moeda afunda-se, a Bolsa suspende a atividade. O país está em bancarrota.

2009: os protestos populares contra o Parlamento levam à convocação de eleições antecipadas, das quais resulta a demissão do primeiro-ministro e de todo o governo. A desastrosa situação económica do país mantém-se. É proposto, ao Reino Unido e à Holanda, através de um processo legislativo, o reembolso da dívida por meio do pagamento de 3.500 milhões de euros, montante suportado mensalmente por todas as famílias islandesas durante os próximos 15 anos, a uma taxa de juro de 5%.

2010: o povo sai novamente à rua, exigindo que essa lei seja submetida a referendo. Em Janeiro de 2010 o Presidente recusa ratificar a lei e anuncia uma consulta popular. O referendo tem lugar em Março. O NÃO ao pagamento da dívida alcança 93% dos votos. Entretanto, o governo dera início a uma investigação no sentido de enquadrar juridicamente as responsabilidades pela crise. Tem início a detenção de numerosos banqueiros e quadros superiores. A Interpol abre uma investigação e todos os banqueiros implicados abandonam o país. Neste contexto de crise é eleita uma nova Assembleia, encarregada de redigir outra Constituição, que acolha as lições retiradas da crise e que substitua a atual, que é uma cópia da constituição dinamarquesa.

Com esse objetivo, o povo soberano é diretamente chamado a pronunciar-se. São eleitos 25 cidadãos sem filiação política, de entre os 522 que apresentaram candidatura. Para esse processo é necessário ser maior de idade e ser apoiado por 30 pessoas. A Assembleia Constituinte inicia os seus trabalhos em Fevereiro de 2011, a fim de apresentar, a partir das opiniões recolhidas nas assembleias que tiveram lugar em todo o país, um projeto de Magna Carta. Esse projeto deverá passar pela aprovação do Parlamento atual, bem como do que vier a ser constituído após as próximas eleições legislativas.

Eis, portanto, em resumo, a história da revolução islandesa: Demissão em bloco de um governo inteiro; nacionalização da banca; referendo, de modo a que o povo se pronuncie sobre as decisões económicas fundamentais; prisão dos responsáveis pela crise; e o reescrever da Constituição pelos cidadãos.

Ouvimos falar disto nos grandes média europeus? Ouvimos falar disto nos debates políticos radiofónicos? Vimos alguma imagem destes factos na televisão?

Evidentemente que não!

O povo islandês deu uma lição à Europa inteira, enfrentando o sistema e dando um exemplo de democracia a todo o mundo.

Theo Buss, Rue du Doubs, 117 2300, La Chaux-de-Fonds, Suisse, Tél. 0041 (0)32 558 7903

 

[Este texto foi por nós revisto ortograficamente e sofreu arranjos de apresentação. Retirado de: https://www.odiario.info/?p=2440.

EV]