O doutor César Fructuoso, fazendo eco do que já se especula desde há vários anos, conjetura sobre a possibilidade de os «buracos-negros» ou «de minhoca» serem 'portais' para uma outra 'dimensão'. A qual, ainda em seu entender, poderá corresponder a um «universo paralelo». E nestes, incluídos os «planos espirituais».
Curiosamente, também eu já especulei, de mim para mim mesmo, não o que Paulo Fructuoso exatamente especula em suas implicações mais amplas, mas sim acerca de uma POSSÍVEL relação inclusiva entre aqueles mesmos «buracos-negros» e as alusões ao «túnel negro» das chamadas «experiências de quase morte», cuja sigla, provinda do inglês, é «NDE», da correspondente expressão «near-death experiences», alusões essas que por fim desembocam, na sequência de tais narrativas, em um (aconchegante) halo de luz muito intensa (que não cega...) e que são referência comum nos relatos de «experiências de consciência em quadro clínico de morte aparente» (sigla «E.C.Q.C.M.A.», ou «EdCeQCdMA», como as designo, por oposição à fórmula simplista «NDE» usada pelas culturas anglófonas, sempre abreviadoras, sempre simplificadoras, de tudo, afinal de acordo com as filosofias que essas mesmas culturas institucionalizaram e professam, que são o «empirismo», o «pragmatismo» e o «utilitarismo», todas elas conducentes a uma empobrecida visão «materialista» das coisas, que é a visão que atualmente impera neste mundo globalizado, muito por força da vitória norte-americana nas duas frentes de batalha da IIª Grande Guerra do século vinte, a ocidental e a oriental, que, entre outras consequências, fez com que o inglês se impusesse como Língua 'universal', pois até então o inglês era a Língua internacionalmente utilizada nos meios comerciais, mas era o francês que era considerado no meio diplomático das relações internacionais), assim como ouso desconfiar da própria condição e da finalidade do Sol e das demais estrelas, cuja presença pode ir além da simples utilidade que têm para a constituição da Vida em seus entornos, portanto não se limitando a serem fornalhas de fusão nuclear, como a (acadêmica) física simplista as apresenta, a essas mesmas estrelas.
Contudo, tais SUPOSIÇÕES não passam de meras, de puras, especulações. E, pior que tudo isso, será o aventar da possibilidade, da HIPÓTESE, de que um «buraco-negro/de minhoca» possa ser um portal para um «universo paralelo», além de se avançar a hipótese outra de que o «plano espiritual» possa corresponder a um universo paralelo, tudo isso não constituindo mais do que simples delineamentos de teorias por suas vezes edificados sobre teorias científicas que, por si só, já de si são teóricas, pois a existência de um «buraco-negro» está provada perifericamente, mas não interiormente, não se sabendo como seja e como se comporte em sua estrutura ou interioridade, muito menos a existência dos «buracos-de-minhoca», estes, sim, meramente supositivos.
Assim é que especular sobre todas essas possibilidades represente pretender teorizar-se sobre meras teorias, pelo que a teorização acaba demasiado precária, dado se constituir sobre os não consolidados pilares de uma teoria outra. Dupla teoria (ou dupla teorização), por conseguinte. E para o caso de se aventar a possibilidade de o «plano espiritual» poder corresponder a um «universo paralelo», colocamo-nos aí, então, em situação ainda mais precária, pois a suposição da existência de «universos paralelos» nem sequer é teórica e sim meramente especulativa, conjetural, tal como o são a assunção de buracos-de-minhoca e toda e qualquer especulação em torno do conteúdo físico e sobretudo em torno da termodinâmica dos buracos-negros, se é que ali ainda se possa falar de «termodinâmica».
Uma «teoria de teorias» vale o que valha. E toda a «simples especulação» feita com base em teorias e a partir delas ainda mais valerá o que possa vir a valer, ou seja: será uma pura, uma gratuita, especulação. Mas todos nós, enfim, (ainda!) somos livres de especular. Valha-nos isso. E para que se construa uma «certeza», sempre terá de se partir de uma «teoria», pois as teorias são pontos-de-partida explicativos em busca da demonstração, por isso se erigindo a partir de hipóteses, que, como o termo indica, são sub(hipo-)teses (a «tese» é o ponto-de-partida explicativo, todavia já demonstrado... teoricamente, ainda que não «praticamente»). Pelo que, em última análise, toda a teoria se ergue a partir de uma simples conjetura inicial. A menos que o sujeito da conjetura seja tão «sábio», que já conheça previamente as respostas às questões...
As intervenções de Paulo Fructuoso e seus trabalhos e reflexões em torno da temática espiritualista e sua ligação às conclusões ou aos meros vislumbres da ciência humana terrestre da atualidade têm seus méritos e pertinência por virem de quem vêm (alguém ligado à medicina – cirúrgica, ainda para mais!), acrescendo-lhes a temeridade de tal... ousadia (...anti academista).
«(...) E quando começamos a abrir os olhos ao visível, há muito havíamos todavia aderido já ao invisível», escreveu Gaston Bachelard.
09-09-2020.