Criar um Site Grátis Fantástico


Total de visitas: 13693
O Finito No Infinito
O Finito No Infinito

Um indivíduo afirma, no YouTube, afinal reverberando a banalidade que escutamos amiúde dizer-se a respeito (...), que «somos apenas um minúsculo pontito no Universo», o qual «nem daria para se observar com o mais potente telescópio desde os confins...» (se é que os haja, esses «confins»...).

Enfim: repete-se uma assertividade oca, completamente vazia de conteúdo e ignorante acerca da pretensão do mesmo. Pois tal afirmação, gratuita no conteúdo e já desde a sua génese, não percebe que os seus termos são produto de um perspetivismo, que é aquele que começa no observador e termina nesse próprio implicado material que o dito «observador» representa ou constitui, que, num exercício de (con)fabulação, assim se imagina num além a olhar este aquém para o qual parece já não encontrar (imaginariamente...) referentes mínimos.

Fraco exercício de imaginação («imaginação»?).

Ora: eu, aqui colocado, sou tão «pontito atomizado» quanto o é o universo inteiro (físico) em que me encontro. Em cada momento de cada 'ponto', cada coisa, cada ser, é, ao mesmo tempo, «pontito» e «imensidão». A 'linha' que vá de mim ao infinito macrocósmico é tão imensa quanto o é a que me conecta ao mais ínfimo microcosmo (supostamente interior, corporal).

Martin Heidegger demonstrou-o, com acutilância, em «O Que É Uma Coisa?».

E ainda que se suponha que esse macrocosmo(s) transcenda o nosso corpo e que o «microcosmo(s)» não seja mais que o interior do corpo, a imensidão é igual num sentido ou noutro, para um lado ou para outro. O Big-Bang é parte de nós; não adianta procurá-lo nos confins, pois dele emergimos como projeções.

Contudo e em boa realidade, não há um «interior» e um «exterior» que sejam verdadeiramente objetivos; ambos são partes integrantes da «experiência de consciência» de cada um. Sendo aliás nela que se descobre e se encontra a verdadeira realidade, pois tudo o que ela experimenta porém o (res)guarda em SUA memória, mais ou menos fiel a cada rememoração feita, mas exatamente idêntica na sua constituição cognitiva, mental, enquanto o suporte físico em que essa consciência ocorre e se sustenta, que se trata do corpo material, natural, ele flui incessantemente e por fim passará, tornando-se assim uma ilusão, tal como Marguerite Yourcenar configurou poeticamente no seu magistral (porquanto esteticamente belo e profundamente filosófico) «Gherardo Perini» (in «O Tempo, grande escultor»).

Julho 2020.