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Filósofo, ou Pensador
Filósofo, ou Pensador

]https://www.youtube.com/watch?v=pDMAfc1ya1M[

Ser «filósofo» não implica a MERA posse de uma graduação universitária «específica». Um 'canudo' CERTIFICA; pode «creditar», portanto; mas não «qualifica». Por isso é que, para se ser «filósofo», não basta alcançar-se o ápice de uma gradação universitária. Ser «filósofo» também não pressupõe concretizar o exercício, não apenas dos conhecimentos adquiridos, mas, inclusivamente, o exercício da capacidade CRÍTICA supostamente averbada no (de)curso daquela aquisição individual. Ou seja: não é «filósofo» quem simplesmente obtenha um reconhecimento oficial de um «curso universitário», como também não será «filósofo» aquele que acabe exercendo um trabalho qualquer que dependa diretamente daquela aquisição, tal como o não seja quem, utilizando o know-how adquirido, com ele responda criticamente a toda a inquirição que se lhe formule. Isto é: não basta ter uma formação universitária completa em «filosofia», ou ser-se «professor» de filosofia, nem ser um «BOM crítico graduado em filosofia», para se ser «filósofo».

Para se ser «filósofo», é necessário, não apenas exercer uma capacidade crítica segundo os parâmetros dogmáticos/disciplinares adquiridos («filosóficos», por suposto), pois isso apenas carateriza um PENSADOR, que pode ser «bom» ou «mau» de acordo com a destreza com que coadune e sincronize a sua sintática discursiva, mas é, sobretudo, necessária a criação de uma SISTEMÁTICA, e uma sistemática PRÓPRIA, a qual necessariamente terá de se basear em «ideias», em «conceitos» e em «argumentos/raciocínios/silogismos» que sejam inequivocamente genuínos, pessoais, singulares, únicos. A «autonomia», quer a autonomia judicativa, quer sobremaneira a autonomia criativa ela mesma, têm de ser condições para o alcandorar-se a um status qualquer, incluído o status «filosófico». Dizia um ex-professor universitário meu, por sinal, bastante «medíocre», apesar dos muitos livros por ele escritos (eu chamava àquilo a «filosofia a metro», com 10 páginas para cada capítulo, que ele IMPINGIA aos alunos para que estes pudessem obter «aprovação»...), que ele era «filósofo». O convencido gabarola. Outros, portugueses é mero exemplo, que em regra mais não são do que patrioteiros sentimentaloides, asseveram que Fernando Pessoa foi um «filósofo», quando o homem mais não foi senão um GRANDE pensador, por vezes magistral, mas apenas «pensador» e não «filósofo». Tal como aquele meu ex-professor mais não foi do que um MEDÍOCRE «professor de filosofia universitária», por fim protagonista de escândalos pessoais de alcova com impacto social bem ao nível da sua 'filosofia' – medíocre, por suposto. Nietzsche, um dos maiores filósofos de todos os tempos, construiu a sua sistemática através do melódico jogo de palavras, tão sublimemente 'performatizado', que sempre me soava a música quando o lia. Por isso ele se autoconsiderou como o «consagrador da Língua alemã», uma vez que até então ninguém havia conseguido elevar a um tal plano de qualidade e maestria o uso daquela Língua como instrumento de expressão. Filosófica, no caso. Todavia, haverá quem questione a sua condição filosófica, confundindo-o a um simples bom literato. Só que há literatura filosófica e há, por outro lado, falsa filosofia. Como o é a de muitos comentadores, que mais não são do que intérpretes, seguidores e extensores, da sistemática filosófica de alguém. Havendo sido esse o caso do português Antero de Quental, só para dar um exemplo. Tem paralelo em Nietzsche a consagrada Marguerite Yourcenar. Prémio nobel da literatura e assim considerada como tal. Só que a 'literatura' de Yourcenar foi tão profunda e sobretudo «filosófica», que a mulher DEVE ser considerada «filósofa» e não meramente uma literata, uma «escritora». Isso sabe a pouco e é injusto, além de FALSO. O seu aporte à análise da categoria temporal, ou seja: a sua análise acerca do Tempo enquanto objeto de reflexão e estudo, foi tão (literariamente) «filosófica», que Yourcenar merece o panteão filosófico. Basta descobrir a sua esconsa sistematicidade, disfarçada sob o manto da literatura, para se perceber a sua condição filosófica. Por isso devendo tornar-se conhecida como a primeira filósofa consagrada ao longo de toda a história. E a derradeira representante da filosofia francófona, toda ela sempre mais pobretona do que a profunda escola filosófica alemã, herdeira direta da Antiguidade Clássica grega. Porque, convenhamos, a filosofia contemporânea morreu com Marguerite, tal como a filosofia alemã morre com Martin Heidegger. Houve e haverá por aí uns escribas da filosofia que se querem «filósofos» (e estou-me sucintamente a lembrar de um Jürgen Habermas, por exemplo), mas a quem lhes falta todo um ESTOFO de «filósofo», precisamente. E justamente por causa da «sistemática»!

E pronto: tenho dito acerca do assunto, que é para não me alongar mais.

EV,

21-04-20.