Parecem um tanto estúpidas as teorias espíritas acerca do suicídio.
Que se terá de repetir tudo igual e outra vez.
Que se aumenta a culpa e o tempo de expiação, não resolvendo a tributação da vida presente e interrompendo a execução das provas a que essa expiação obriga.
Et cetera, etc.
Teorias. Humanas. Terrenas. Que nada esclarecem – nem provam.
E ainda que digam que foram ditadas pela sumidade das sumidades outrora humanas e agora somente espirituais, não se é obrigado a fazer fé no que a razão diz não ser lógico.
Pois imagine-se um perseguido completamente indefeso e de corpulência normal, que se encontre encurralado por um penhasco e vinte inimigos armados de sabres e punhais e de corpulências normais.
À sua frente o penhasco – e atrás, os vinte decididos a tirarem-lhe a vida.
Ele não tem escolha: ou se atira do penhasco e morre da queda; ou é trespassado pelos agudos gumes e pontas das armas brancas inimigas – e identicamente sucumbe.
Entende que a queda será menos sofrida e atira-se.
E depois ainda vem a divindade castigá-lo por tão tresloucado (?) ato?
Argumentam que aquele suicídio seja «menos grave» e tenha «atenuantes». E os outros? Que sabemos dos outros suicídios?
Se a dizem e têm como «infinitamente BOA», como pode a divindade culpar de uma decisão o abandonado sujeito? Ainda que o fizesse através da própria consciência do indivíduo... .
Não. A divindade não é «boa» nem «má»! Apenas criadora.
Porque a Natureza de facto revela uma intenção muito evidente e capacidades de planeamento e de organização absolutamente incomuns.
E precisamente por ser criadora, é que não será boa nem má para essa criação, uma vez que deixa de haver vínculos entre as duas realidades, no sentido intervencionista/providencial.
Pois criação que permaneça dependente do criador não é mais do que uma sua extensão, qual espécie de borbulha desnecessariamente suplementar.
Por isso as realidades são essencialmente muito diferentes do que as possamos supor.
À criação, a toda a criação, são-lhe dadas leis de autonomia muito próprias, específicas, para que possa conduzir-se independentemente em todo o processo.
De contrário, tudo cairia no domínio da previsibilidade e transformaria a criação num capricho e não no ato sumamente inteligente que qualquer análise saudavelmente lógica lhe atribui.
À divindade o que seja divino. E aos espíritas, apenas a especulação. Ainda que ditada por doutos (?) ...espíritos (?).
EV